segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nós que nos amávamos tanto...

Estamos vivendo um bombardeio de notícias de todos os lados do mundo , já há algum tempo, sobre alunos que matam colegas, professores, diretores, etc.
E por mais que a notícia se banalize eu não consigo acostumar, entender ou já achar “normal”. Não consigo entender, não entra em minha cabeça...
Mas lembrei de um texto, bem conhecido e usado em reuniões, na época da ditadura militar e dos tempos de repressão.
O texto compara uma escola à uma empresa, onde os professores seriam os donos da empresa e os alunos os operários. E fala das relações de poder que se cria na escola, onde os professores exercendo seu poder, dominam os alunos e os reprimem, tirando desses todos os direitos de argumentação, opinião, etc
E talvez na nossa época de estudantes até poderíamos entender essa comparação, mas ainda assim...minhas lembranças de estudante lembram muito mais as amizades que fizemos e as bagunças nas tentativas de burlar o poder, de desobedecer as regras, em um nível de inocência característico de nossa geração.
Mas, sinceramente, nos dias de hoje, tal comparação é tão absurda quanto falsa.
Se fôssemos comparar uma escola a uma empresa, sem dúvida os professores seriam os operários e os alunos e pais, os donos da empresa. Quantos casos de professores que apanham dos pais dos alunos por causa de uma nota baixa, por causa de uma suposta “perseguição”? Quantos professores são desrespeitados pelos alunos e os pais chamados, dão razão a seus amados filhos? Quantos professores tem de dar recuperação nas férias para aquele amado aluno que passou o ano inteiro brincando e sem estudar, porque os pais entraram na justiça alegando que a matéria não foi bem explicada?Quantas vezes já ouvimos falar de alunos que se “articulam” para tirar um professor que cobra dos alunos além de direitos , os deveres também? E será que esse é o sentido da palavra “articular”??
E voltando a comparação da escola com a empresa, que tipo de educação podemos dar a nossos alunos se continuarmos lendo o texto sob o mesmo prisma em que ele foi escrito, ou seja, a época da ditadura? Se pensarmos que não podemos reprimir as manifestações dos alunos, e que eles tem direitos, sem nem lembrar quais são os deveres, para não condicionar? ... E que se os alunos forem para a escola para fazer o lado “social” devem ser entendidos, pois a escola deve abrir espaço para socialização? Sou de opinião que os alunos vem para a escola principalmente para aprender a conviver em grupo, onde o conteúdo é um meio para se aprender, mas não acho que a escola seja um clube social, que de vez em quando tem uma aulinha de português. E acredito muito nas atividades extra-classe, como a grande saída para a educação pública. Mas não podemos inverter os valores.
Não éramos alunos “santos” estávamos longe disso. Lembro das bagunças e armações para os monitores não descobrirem quem tinha soltado uma bombinha no banheiro das meninas, e sem nenhuma aluna lá dentro.
E a “graça” estava em ninguém descobrir. E quando pulei o muro da escola para fazer uma prova pois cheguei atrasada? O professor me mandou pra secretaria. Morri de vergonha, mas me defendi. Mas um outro professor(Neif Satte Alam) me elogiou em frente a todos os colegas dizendo que ele adoraria que um aluno dele pulasse um muro de mais de 2 metros para assistir a aula dele e que receberia com banda de música!!!
Hoje em dia tudo é permitido e ai de quem se atreva a reprimir os alunos (isto em escolas que adotam aquela cartilha que falei antes). O aluno pode pagar uma  aposta dentro da escola, fazendo alguma coisa que só faria no carnaval... desfila pela escola e nada acontece com ele. Ele deita na classe pois não dormiu direito na noite anterior, ou vem da festa direto para a escola e acha tudo muito engraçado, manifestando sua " alegria" em alto e bom som a quem quer que seja.
Não trabalho na escola mais democrática de mundo, nem representamos um único partido , mas acho que tentamos achar o caminho do meio...Acho que o meio termo existe, sim, podemos ter o amor e respeito de nossos alunos. Basta se interessar por ele e fazer ele se sentir querido, sentir que alguém se importa com ele. E exercendo a autoridade que nos é competente, sim, porque não? Parece que autoridade é palavrão, ou que pode ser confundido com autoritarismo. Esse é o ponto nevrálgico da questão, pois por uma barreira de cunho político, o mais “correto” seria não reprimir nunca, nada....
Alunos fazendo sexo oral dentro da escola com o colega filmando e depois caindo na internet, é considerado normal, algo não tão grave assim pelos pais visivelmente ofendidos com tanta repercussão “indevida” .
E quando um aluno pega a arma do pai e mata a professora, ninguém sabe porquê! Não seria a “nosso bombinha “ no banheiro que tomou uma dimensão igual à permissividade praticada em algumas escolas???
Não podíamos fazer tudo que quizéssemos na escola, passamos por momentos difíceis, mas o que ficou foi apenas as boas lembranças, as diversões , o desafio de aprontar e todos, menos os professores ficarem sabendo. Isso nos fazia sentir fortes e unidos. E, quando entramos na Universidade, nossa luta cresceu em valores e lutávamos por liberdade justa, por currículos mais adequados ao mercado de trabalho, por condições de transporte melhores, etc, etc.
Infelizmente os universitários de hoje lutam pelo quê? Nossa guerra era santa, nossa luta justa e compactuada pela maioria das classes.
Hoje , quando tudo é permitido, só cometendo uma tragédia para “aparecer”. Em uma época em que todo mundo expõe sua vida íntima para o mundo, o que faz, o que gostaria de fazer, etc etc etc, fica difícil transgredir as regras, aspecto esse que faz parte de uma etapa da vida de quem está em uma fase de experimentações e medição de forças.
Pensando em tudo isso vejo que todos nós (quem tem mais de 40), somos privilegiados em todos os sentidos: nossos ídolos, nossa música, nossas bagunças na escola, nosso enfrentamento das autoridades... E sabem porquê? Acho que o Amor estava mais presente em todas as relações!
Ah, nós que nos amávamos tanto...
Eliana Valença

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