“Não foi fácil chegar até aqui, minha geração
lutou muito para ter voz.”
Dilma Rousseff
Tem razão, Srª Presidente, e isso
não pode e nunca será esquecido. Está escrito na história com letras de sangue
e luta.
Mas muitos dos que trilharam esse
caminho, que fizeram coro contigo, que saíram às ruas, que acreditaram na
mudança, em algum momento deixaram de acompanhar aquela massa por não concordar com o caminho escolhido, por não vislumbrar a luz
no fim do túnel, por sofrer de um sentimento chamado desilusão.
Mas a luta continuou, outras causas, outras ruas, outros
protestos vieram e lá estavam os descontentes, ainda lutando, mas por caminhos
opostos, infelizmente.
Hoje a rua foi tomada novamente:
- por aqueles descontentes;
- por gente nova na luta, jovens inexperientes, é verdade, mas nem
por isso alienados;
-por gente que ainda não tem bem
claro o que está escrito em seu cartaz, mas nem por isso “sem causa”;
-a direita , possivelmente, estreando na passarela da “rua”;
-a burguesia, com sua
participação festiva (sempre presente);
-os aproveitadores, prontos para
levar alguma vantagem;
-os “da antiga”, velhos rostos de
sempre, se reencontrando e revivendo a velha chama;
-os vândalos e baderneiros, na
contra mão do protesto.
A rua é de todos e as
experiências do passado servem para aprender a não cometer os mesmos erros. Tolerância é preciso para pedir por
tolerância! A mobilização é necessária
para evitar a estagnação.
A rua é de todos! Na rua nascem os
manifestantes, no grito de guerra, no cartaz que empunha como a uma espada,
contendo sua idéia, sua criatividade, sua indignação, a essência de sua luta.
Ninguém nasce militante. “É na luta que se forja o guerreiro.”
Desses milhões que saíram à rua,
muitos não tem causa, mas têm vontade de ter porquê lutar, por andar
“adormecido” o anseio de se manifestar, de reivindicar, de expor seu
descontentamento, coisas que se aprende na prática.
Essa massa heterogênea, não é diferente da massa que construiu nossa
história e que colocou Vossa Excelência na presidência do país.
Desses milhões de pessoas que
saíram à rua, muitos vão abandonar a luta quando a novidade passar; muitos vão continuar por um tempo, mas alguns
vão um dia olhar para trás e dizer como nós, senhora Presidente, que fizeram parte dessa história. E se nascer
uma geração de manifestantes que tenham a liberdade de pensar e ouvir o clamor
de diferentes vozes, vão dar
continuidade à nossa luta.
Saberemos, então, que apesar de
uma minoria sem escrúpulos (que sempre se faz presente nas grandes
aglomerações) esse movimento vai ter
valido à pena. E, às vezes, nas linhas tortas, estão os grandes recados.
Quando repudiam a manifestação de qualquer partido, não querem dizer que são
contra a existência de vários partidos no Brasil.
Acho que o grande recado é que apesar
de pertencer a um partido e fazer parte da história, as pessoas tem o direito de discordar de algumas
ações e a obrigação de manifestar sua indignação. O partido não pode ficar adiante
da verdade do cidadão. E, finalmente, nenhum governo, em lugar nenhum deste
planeta, pode dizer que o povo não tem o que
reivindicar, sem se tornar arrogante. Os preconceituosos, os que “não se
misturam”, os arrogantes, estão anunciando sua retirada... Talvez não
esperassem tamanha adesão ( e milhares de outros vinte centavos). Talvez
pensassem que a rua tivesse dono.
Engano!
Está surgindo um novo jeito de
fazer política, um jeito diferente, sem paixão, como acontece com o amor ao time de coração, um jeito que está
se construindo, onde queremos valorizar
mais a nossa cara lavada e natural, do
que apresentar, para o resto do mundo,
uma bela face muito bem maquilada. Nós já temos uma “cara”: a cara
lavada do Brasil! Gostamos dela assim!
Eliana Valença
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