quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Copa do Aprendizado


Meu pai contava uma piada a qual tenho lembrado muito nestes últimos dias, mas desde ontem, não sai de minha cabeça. A piada é uma alusão bem humorada à conhecida aptidão para negócios e apego financeiro  do povo libanês, que meu pai conhecia bem, pois trabalhou para uma família com a qual adquiriu hábitos alimentares e  guardava boas  lembranças e piadas contadas sempre com muita riqueza de detalhes e alegria.
A piada conta que um rapaz entrou na lojinha do Salim e foi dizendo:
-Gostaria de falar com o Salim.
Salim “saiu”, respondeu rapidamente o Salim, certo  que o rapaz fosse um cobrador.
-Que pena, ele foi contemplado com um prêmio da nossa empresa...
Salim deu um pulo de dentro do balcão e gritou:
-Salim “ soi eu”!!!!  Salim “soi eu”!!!!
Parece que essa história está acontecendo aqui com a copa, só que às avessas...
Até ontem, havia uma  avalanche massiva  de postagens nas redes sociais sobre as maravilhas da copa das copas. Era uma exaltação às pessoas de “bem” que sempre defenderam as inúmeras vantagens da copa em nosso país  e alfinetadas  nas pessoas do “mal” ,  que ainda tinham a coragem de argumentar contra a copa  e  enumerar as prioridades que foram substituídas por estádios etc etc.
Mas era tanta e tanta questão que faziam de achar pais e mães para a realização da copa, quanto as distribuições fartas de comentários ácidos contra quem apostava no fracasso da copa.
 Então veio a  tsunami...  colocou no chão nossas “torres gêmeas” , quebrou nosso orgulho de país do futebol, varreu com as esperanças do Brasil ganhar, apagou o sorriso da cara do  brasileiro, derrotou o país  naquela característica que é a mais comum a todos (na opinião da maioria): o amor pelo futebol . E não foi apenas uma derrota, foi a Derrota das derrotas.
E aí começaram a buscar os culpados... e aí, minha gente, começaram os absurdos: a culpa é do Felipão, do Fred, da CBF, etc, inclusive um texto absurdo culpando a mídia golpista, vingança da FIFA, coibição dos brasileiros de torcerem para o Brasil etc etc etc. E sem falar dos bem comentários humorados  que mostram bem o espírito dos brasileiros.
Quando tudo estava dando certo e se o Brasil fosse campeão era só “Salim soi eu”, agora que deu errado “Salim saiu”...
E agora é a hora de colocar a culpa em alguém... Poucos fizeram a  “mea culpa” e talvez esses sejam os menos responsáveis pela derrota. Pouquíssimos admitiram a grandiosidade do time alemão, a determinação, a garra, a frieza e o equilíbrio emocional  para não se abalar com toda a fama do time dono da casa, da torcida inflamada e em maioria esmagadora.  A Alemanha entrou no jogo na hora do jogo, com um time superior ao nosso e não tomou conhecimento do resto a não ser da  sintonia de sua equipe. A impressão que tenho é que entraram determinados a fazer um gol no início para desestabilizar, mas... o nosso time desestabilizou, escorregou e perdeu o equilíbrio, como acontece em qualquer jogo. É jogo!!! E vi o capitão da Alemanha pedindo desculpas ao Brasil , mas nem eles esperavam isso e que não queriam humilhar o Brasil.
Não há o que fazer a não ser tirar disso uma lição, repensar uma série de coisas: a força do pensamento (positivo e negativo); a busca a qualquer custo da razão; de justificar qualquer erro nosso, e sempre achar um culpado “fora”; de usar a mesma lente deformada há anos para ver  e analisar os fatos; ler os acontecimentos sempre sob o aspecto partidário, pesando as coisas com o dedo na balança; educando nossos filhos para não serem responsáveis pelos possíveis erros , como se aí não estivesse um aprendizado, antigo, é verdade, mas sempre eficiente; a arrogância de sempre pensar que sempre vou fazer melhor do que o outro;  o olhar distorcido de somente criticar a ideia e os fatos realizados pelos outros mesmo que tenham repetido uma atitude minha quando passando pela mesma situação; e por aí vai...
Pois o que poucas pessoas se dão conta quando direcionaram o sucesso da copa para este ou aquele,é que muitos grupos de oração pediam e visualizavam em seus momentos de meditação, que tudo transcorresse em paz, sem tumultos e isso aconteceu: o povo brasileiro mostrou-se hospitaleiro, alegre e com amor declarado a sua bandeira. E isso vai ficar! Puro mérito da índole do povo!!!
Fica a  vergonha em sofrer uma derrota de tamanha dimensão para o futebol brasileiro. Mas a vergonha não é do Brasil, nem só dos jogadores ou técnico.
A caça às bruxas vai continuar... os culpados vão ser amplamente  buscados e discutidos e os comentários arcaicos sob a lente de míopes, vai continuar...
Pois eu acho que aconteceu o que tinha que acontecer, o melhor para o Brasil!!! Difícil de entender, mas a minha intuição me diz que esse foi o melhor para o Brasil. O motivo, acho que vai ser claro para alguns, daqui a um tempo. Para outros vai ser sempre inexplicável. E se fosse uma derrota comum, de 1x0, por exemplo, talvez eu não fizesse essa triste reflexão. Apenas estaria lamentando a derrota, lamentando como todo o brasileiro, ter perdido a copa em casa. Mas o que me fez refletir, foi justamente o placar. É 7x1 !!!  Isso é um sinal gigante de PARE!!! PENSE!!!
E  é isso estou aqui fazendo.  Não entendo nada de futebol, mas entendo de ser humano! Estou tentando achar o aprendizado de tudo isso e não o possível culpado, sem me redimir de minha responsabilidade, sem responder que “Salim saiu”, se assim me for conveniente ou “Salim sou eu”!!!
O Brasil é o país do futebol mas também o país da alegria , da arte popular, da música, da dança, da diversidade. Um dia isso também vai nos aglutinar em um grito único, e aí vamos ser invencíveis em realizações em todos os campos.
Para encerrar, uma copa no Brasil que começou com aquela abertura  desbotada, pobre e vazia terminou também num vazio imenso  para  nós, brasileiros.
Ainda não entendo exatamente qual, mas há um motivo muito maior para que tudo isso  tivesse acontecido, um aprendizado por linhas tortas, uma certeza de que as coisas tinham que acontecer assim...
E uma ideia  surge agora,  lá no fim do túnel... :
Às vezes quando a gente perde, a gente ganha...
Eliana Valença


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